quarta-feira, agosto 14, 2013


A dita cuja

Quando eu ainda não sabia do poder dessa tal serpente, escutei uma lenda...


Era uma vez um vagalume que era perseguido insistentemente por uma cobra. Ele fugiu por alguns dias, mas já sem forças o pobre do vagalume perguntou à cobra se podia fazer algumas perguntas. A cobra, que ia devorá-lo mesmo, abriu precedente. O vagalume perguntou se ele fazia parte de sua cadeia alimentar ou se tinha feito algo para ela. A cobra prontamente respondeu-lhe que não. Em seguida o vagalume questionou a sobre o porquê dessa perseguição. A cobra maligna lhe disse que não era por um motivo, assim, conciso, era apenas porque ela não suportava vê-lo brilhar.

Não é necessário um estudo profundo de Freud ou Lacan pra saber que a tal da cobra nos cerca. Se não agora em algum momento da sua vida você vai se deparar com uma, pode ter certeza. Seja pela garrafinha de água que você carrega, pela sua roupa, pelo seu corte de cabelo, pelo seu celular, pela sua competência, pelos elogios que o chefe lhe faz ou simplesmente pela banal cor do seu esmalte. Ergue o dedo mindinho quem nunca teve uma naja que lhe sorri cordialmente e basta que os fones de ouvido se direcionem até seus ouvidos que pronto, você é assunto novamente da tal rodinha.

Porque das duas uma, ou a rodinha fala mal de alguém ou se une para fazer algum mal a alguém. Afinal quem é que não ouviu a pesquisa de que se despertar ameaça  - mesmo que ela seja irreal -e seja como e qual for essa tal - vide o pobre do vagalume - traz a tona a serpente guardada em cada um.

Não sei como lidar com as najas da minha vida. Mesmo encontrando diversos vídeos, artigos e pesquisas que se entitulam "como lidar com isso na sua vida". Nenhum remédio me foi eficaz contra tal praga.

Dizem que desde que o mundo é mundo a serpente existe. A dor da picada da serpente pode ser insuportável até quando você aprende que é possível viver sem precisar fugir e sem sentir dor.

Há cobras que na verdade sonham em ser vagalumes. Há vagalumes que não se sentem incomodados com a perseguição das najas. Embora soe estranho é possível viver assim, sendo perseguido, porque - tirando as armadilhas e as chateações, cobra será sempre cobra e vagalume, curiosamente, sempre brilhará.



PS.: Vamos todos morrer de inveja, afinal dizem que até mesmo Machado de Assis se rendeu a este mal.

terça-feira, agosto 06, 2013


No jardim de infância





Tem gente que sai da pré-escola, mas não permite que a pré-escola saia dela.
Tem gente que não permite que os antigos hábitos, e atitudes maduras e inteligentes, sejam substituidos pelo simples fato de que aquilo lhe convém.
Porque é muito mais fácil e cômodo continuar com as mesmas atitudes de quando você tinha 04 anos e fazer com que as outras pessoas sejam obrigadas a aceitar.

Porque só na pré-escola a gente não fala com o coleguinha porque ele fez alguma coisa que não agrada; porque, talvez, só na pré escola você possa ter o direito de ficar emburrado se o amiguinho pegou o lápis que você queria usar naquele momento;  porque só na pré escola a gente fica esperando 'Parabéns estrelinha' da professora; porque só na pré-escola a gente precisa lanchar com o amiguinho pelo simples fato de ser visto lanchando sozinho pode gerar conversas e suposições dos outros coleguinhas; porque só na pré-escola a gente fala pra professora que o coleguinha pediu pra gente não fechar a janela, e a gente não quis, diante disso a gente passa todo o resto do semestre letivo sem falar com o coleguinha; porque só na pré-escola a gente acha que perguntando tudo para a professora a gente seria de alguma forma privilegiada; porque só na pré-escola a gente precisa sentar na primeira carteira pra 'puxar saco' da professora e conseguir boas notas;  porque só na pré-escola a gente acredita que a professora sabe de tudo, 'no mundo', e não pode ser contrariada;  porque só na pré-escola a gente aceita ouvir crianças imitando bebês; porque só na pré-escola se a gente não tem a boneca que a coleguinha tem, ao invés de brincar junto, a gente quebra a boneca do coleguinha; porque só na pré-escola a professora briga se sentarmos fora do mapa de classe; porque só na pré-escola a gente pode fazer cara feia e ir pra casa se foi mal na prova; porque só mesmo fora da pré-escola e diante de tantas atitudes infantis a gente precisa ser dar conta e entender e, ainda, suportar esse tipo de gente.

Porque infelizmente esse caso chupeta não resolve.





sexta-feira, julho 26, 2013


A vida dos outros

Um fotografo confinado em seu apartamento, com uma perna engessada, sem nada pra fazer, decide bisbilhotar a vida alheia como forma de matar seu tempo. Seria novidade se não se tratasse da trama de Janela Indiscreta, do mestre do suspense, Alfred Hitchcock, inspirado no conto de Cornell Woolrich. O filme trata com maestria o voyeurismo, algo que eu, você, nem ninguém pratica.

Vamos supor que alguém, assim, muito longe da gente, em um universo bem distante, comente da vida do artista da televisão, do conhecido da cidade, do parente ou do vizinho. Essa gente existe, mas a gente não sabe muito bem onde fica, não é mesmo? Sabe aquele programa de tv que todo mundo fala que não vê, e se sabe alguma coisa é porque estava mudando de canal? Isso mesmo, o tal do Big Brother, A Fazenda, daquele site especialista em propagar a vida pessoal do seu artista favorito, ou da revista de celebridade, então, por que será que fazem tanto sucesso? Será que as pessoas têm curiosidade em saber da vida alheia e acabam por inventarem histórias supondo alguma coisa? Não, né, devo estar enganada.



Ana é vizinha de um hotel, um não, vários. É moradora do bairro que mais recebe viajantes na cidade. São cerca de 4 hotéis nas redondezas da sua casa. Mas tem um especificamente, que fica na esquina. A rotina de lá interfere na rotina de cá, não diretamente mas interfere nas conversas da família de Ana, todo dia.

Tem o rapaz que mora no hotel, e sempre que ele está por lá a janela do segundo andar está aberta e a luz acesa. Ah, sem contar que ele, mesmo que Ana não conheça sua história de vida, considera-o como um vizinho antigo, com tchauzinho ele acena para Ana e sua familia. Ultimamente o quarto dele não anda com a janela e a luz acesa, pode ser que ele tenha mudado, foi a conclusão que chegaram. Tem o final de semana de festa na cidade que o hotel está com todos seus quartos ocupados e tem sempre algum hospede que sai na sacada pra conversar. Tem a galera do instagram que gosta compartilhar com os amigos os arredores do hotel hospedado. Tem semana que todas as luzes dos quartos estão apagadas, ou seja, nenhum hospede. Enfim, é animada a vizinhança por lá, cada dia um novo vizinho.

Ana faz caminhadas diárias na esteira da sua casa,  que lhe proporciona uma visão privilegiada da rua, consequentemente quem entra no hotel. Uma caminhonete dessas do ano corrente, com vidros escuros, havia estacionando do outro lado da rua, em frente sua casa.

Embora os vidros fossem escuros era possível notar que 2 pessoas ocupavam o veículo. Ana caminhava e o carro continuava ali, parado, ninguém descia. Isso a intrigou. 3, 5, 10, 15 minutos parados, deu partida, o carro virou na esquina e voltou para o mesmo lugar.

Ah não, Ana ficou ainda mais curiosa. Cerca de três minutos depois, o motorista desce e caminha em direção ao hotel, deixando a carona dentro do carro.

Ana caminhava e se questionava sobre as mil e uma possibilidades. Afinal quando você faz esteira e não tem tv, é necessário encontrar diversas coisas pra pensar. Ana estava pronta para a qualquer momento dos próximos segundos desvendar o mistério.

Será que Ana é a única a criar histórias que poderiam acontecer, mesmo que elas não saiam da sua cabeça? Acontecem romances, tragédias, comédias e dramas sobre fatos corriqueiros que acontecem diante dos meus, dos seus, dos nossos olhos. Fico imaginando o que as pessoas pensam ao se depararem com cenas, mesmo que não sejam extravagantes ou fora da realidade, protagonizadas por mim ou por você ao caminhar pelas ruas. Gosto de me colocar no olhar do outro, mesmo que isso me ajude apenas a criar histórias.

Eu sei que eu, nem você, nem ninguém fala da vida alheia. Mas vai me falar que você não dá uma só uma espinhadinha. Só sei dessa história porque a Ana me contou.

Ana não sabe o desfecho do caso, embora tenha criado uma porção de finais possíveis.



sábado, julho 20, 2013


Meu caso com a gramática ou A turbulenta relação do brasileiro com a língua portuguesa




"Esta é uma declaração de amor: Amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor."
Clarice Lispector



Não que eu seja exigente, mas dar uma escorregada na língua portuguesa perde 10 pontos comigo.


O meu trabalho me fez um pouco escrava das regras ortográficas e muito mais exigente em relação (a grande quantidade despretensiosa de) textos que leio.

Tenho uma mania nada educada de corrigir (mentalmente) concordância verbal ou palavras grafadas incorretamente seja em rotúlo de shampoo, pacotes de pão, sacolinhas do supermercado...

Pode ser que essa minha relação extrema com a língua portuguesa tenha se dado pelas vezes que recebi um belo de um puxão de orelha pelas pequenas escorregadas (quem nunca?), quando ainda acreditava na redação publicitária, em um tempo verbal um pouco distante.

Em geral o brasileiro tem problema com a língua portuguesa. Problema é pouco, em geral o brasileiro tem trauma das aulas de português, jogando a culpa nas demasiadas regras da língua. Coitada.

No geral o brasileiro tem dificuldade em distinguir a diferença entre MAS e MAIS, PORQUE, POR QUE, PORQUÊ e POR QUÊ, SE NÃO e SENÃO, AONDE e ONDE e insiste sempre em optar pela forma errada ao escrever.

Não estou falando das regras necessárias para se escrever um texto jurídico ou sobre as regras da ABNT, estou falando daquele português do dia a dia, daquela fala simples que a galera compartilha fácil com os amigos virtuais.

Em tempo de explosão das redes sociais, facilidade em publicação na internet, onde todos têm voz - e isso é ótimo - tal problema com a língua se evidencia. O indivíduo nasce e ganha junto a certidão de nascimento, um login e senha para o facebook.

Alunos, professores recém formados e estudantes de pedagogia (e muitos outros, e muitos outros), têm mostrado do que está povoada as faculdades e como escrevem os próximos mestres do futuro desse país, através de frases bombásticas, repletas de erros, gerúndios e com uma concordância sem igual. Pessoas que não tem a mínima noção da diferença de uso de s, ss, ç, x e ch. Anciosos de plantão pela prova ou show;  gente apaichonada que deseja que o amigo seje feliz e esteje bem; muita gente  chatiada, assim como eu, com o assassinato da língua portuguesa.




quarta-feira, julho 17, 2013


Das velhas histórias esquecidas na gaveta

Dizem que eu ando muito auto-ajuda...

Não fumo. Não bebo. Tenho alergia a gatos e nem sempre tenho algum comentário assertivo, digamos que relevante.

Não é sempre que tenho uma boa história pra contar e não é sempre que tem alguém pra ouvir.


Prefiro ouvir à falar. Observar do que ter uma participação mais central em um debate.

O mistério me envolve e a inteligência me atrai.

É que eu fico tomando nota mentalmente pra depois levar a situação adiante, diante do teclado, de uma forma que eu possa ter total controle das coisas, mesmo que às vezes, esta seja uma das poucas situações que controle seja algo que eu não tenha.

Pois é, não sou o tipo de gente julgada nesses meios sociais como interessante. Durmo cedo, acordo cedo, falo pouco, assisto tv e leio jornal.

Não tenho um best seller indicado pelo New York Times - pois se tivesse você já havia de saber -  e nem tenho a pretensão de ter.

Vivo diariamente essa dificuldade de organizar pensamentos e botá-los em uma folha de papel.

Esse é o dilema de quem precisa organizar essa confusão mental. Uma, duas, três linhas escritas. Pronto. Apago quatro.

Não é sempre que consigo escrever, não é sempre que quero escrever. Eu só escrevo quando eu quero. Meu processo criativo é teimoso.

Escrever dói. É um processo angustiante, ansioso...

Dói colocar diante da aprovação de terceiros aquilo que você criteriosamente julga. Julga e tem medo de ser julgada. Poderia escrever uma porcaria qualquer e desprender-se daquilo naturalmente jogando ao vento, em uma gaveta, dentro de uma caixa qualquer. Uma caixa de email que guarda todos os seus escritos esperando sabe-se lá o que.

Dói manter pose de criativo (na melhor foto de escritor com cigarro na mão) quando não sai nem uma vírgula.

Não fumo. Não bebo. Tenho alergia a gatos, nem sempre um comentário assertivo interessante, e pânico de folha em branco.

sexta-feira, julho 12, 2013


A gorda de burca

Imagine uma gorda de burca.



Ultimamente um assunto tem sido recorrente no meu "lar - com nem tanto açúcar - doce lar". Jantares e  almoços, há um bom tempo, são povoados pela mesa farta de uma família típica de descendentes italianos, numa dieta rica em carboidrato, e regados pelos doces e fartos comentários sobre os meus indesejados e tão queridos quilinhos a mais.

Entre uma mordida do mais delicioso pão caseiro e outra, confesso não ter o menor problema com isso, a não ser a minha dura relação com a balança que me leva a longas caminhadas diárias na esteira, remédio para colesterol alto e refrigerante riscado - juntamente com o açúcar -  do cardápio. Pura questão de saúde. Levo o assunto com a sutilidade de um jogador de futebol contando embaixadinhas, na mais pura esportiva.

Nunca tive problemas com peso. E isso nunca foi neura pra mim - e nem é - , mas quando me deparei que tal assunto tinha se mostrado pertinente não só nas reuniões lá em casa achei que algo tivesse mudado.  É a Betty Faria que ilustrava os portais com uma polêmica sem tamanho: seu biquíni e sua idade; é o Walcyr Carrasco que declara que gordos, no Rio, são mais discriminados do que negros; é a novela das 11 que traz a personagem que explode de tanto comer; é a vizinha, a amiga, a prima que não se entendem muito bem com o peso.

Algo me dizia que na verdade eu deveria me dar conta e levar a questão mais a sério. Tirando o fato de que o ar me engorda e respirar já me torna um pouco mais acima do peso e isso me incomodar só um pouquinho, sei que o termo "gorda" dói mais que um tapa na cara, para certas mulheres.

Mas parece que algo mudou. muito. em mim. Mudou minha forma de encarar apelidos carinhosos como fofinha e roliça, coisa de família, amor de irmã. Me dei conta que a sociedade encara com dificuldade  pessoas fora do padrão. Que padrão? Padrão inventado quando e por quem? É normal achar que todo mundo deve ser igual, da cor do cabelo aos gominhos do abdômen? Quem falou que o padrão é ser magrela, barriga chapada, cabelos compridos levemente escorridos e peitão? Quem falou que precisa tirar, e por, e alisar, e levantar, e clarear pra ser feliz?

Felizes são aquelas que aceitam o que são. Que não vivem culpando - nem se desculpando - pela sua forma. Se acha que está um pouquinho acima do peso, vai lá e tenta emagrecer. Tenta, mas não se priva da felicidade que é comer brigadeiro de panela e palha italiana assistindo ao filme que você mais gosta.

É muito mais bonito uma gordinha sorridente de biquíni em Copacabana do que uma gorda de burca pela Avenida Atlântica. E tudo é questão de assumir. Assumir o que você é e aceitar. Aceitar, se for opção. Se preferir por correr a trás, corra do jeito que você mais gosta, pode ser de short ou moletom. Não precisa deixar de lado a manicure, os novos batons, o blush, TPM... Perfeição só existe nas revistas. E quer saber, se seu caso for como o meu, que está muito mais pra Mafalda do que pra Barbie, mais Pagu do que Rachel de Queiroz, você deve estar preocupada com coisas de maior relevância do que o tamanho da sua barriga.


PS: Continuo acreditando que apelidos carinhosos familiares são pura implicância. 

quinta-feira, julho 11, 2013


Recontando é que se vive

Desde quando ainda era um cisquinho de gente costumava inventar histórias para poder, nem que fosse por segundos ínfimos, morar dentro delas. Recriei cenas, desconstrui finais, construí mundos ilógicos.  Recompus melodias para que ficassem no meu tom.

Procurei por entre linhas letras que tivessem mais poesia. Me deparei com uma relação afetiva com todas elas. E diante de um quebra-cabeça complexo encaixei peças que me faziam respirar melhor.

Despistei o medo do escuro caçando vagalumes. Inventei um imenso vale em um pequeno vaso no jardim. Conheci lugares que jamais estive. Vive o que jamais cheguei viver.


Coloquei o barquinho na água e me vi em uma imensa tempestade em meio ao oceano Atlântico. Soprei o avião ao alto e vi a liberdade de um pássaro que bate asas ao longe.

Cantei em teatros lotados, os mesmo que serviram de locação para os meus mais grandiosos filmes.

Fazendo de conta que tudo isso era verdade, fui vivendo.

terça-feira, junho 18, 2013


"Porque há direito ao grito. Então, eu grito" ou #Vemprarua

Em tempo...

"Todos devemos protestar
Não podemos nos intimidar
A terra nunca foi um lugar de amor e paz
Quem está aqui tem que lutar
Devemos protestar
Queremos revolução"
Ratos de Porão





Não se trata apenas de vinte centavos. Isso a gente sabe há muito tempo. Foi agora que você percebeu? Chega de aguentar tudo de boca fechada. Basta de tanta opressão. Proteste contra o aumento da passagem, do gás, do tomate, do açaí, da cebola e da cenoura. Não se esqueça, aproveite e proteste contra o dinheiro público utilizado para construir estádios; daqueles hospitais inacabados, sem leitos e profissionais; Grite contra a falta de segurança. Em favor de uma educação básica digna. Proteste também contra toda e qualquer manipulação; contra governantes corruptos; contra a polícia despreparada. Chega de discussões rasas e conversas fúteis  sobre a cor do batom, do cabelo ou do sapato;  usar ou não pincel pra passar base? Está mais que na hora de se importar apenas com as taxas de importação das maquiagens e bolsas importadas que quem paga é o papai.

Chega de achar que você precisa estar sem se questionar. Chega de pegar o jornal e se importar se sua foto saiu ou não na coluna social. Está na hora de abraçar a responsabilidades e nela assumir o que diz e faz. Está na hora de parar de criticar a vida dos outros que não interfere em nada na sua própria. Chega de achar que modelos prontos estão todos certos, sem questioná-los. Passou da hora de viver sem se importar se está com uma espinha, marca de expressões ou se as antigas calças jeans já não as servem. Chega de deixar ser levado pelo pensamento de que está bom. Bom? Está na hora de discutir se os hábitos que escolheu foi por vontade própria.

Quem disse que preciso ouvir aquela música que toca insistentemente na FM? quem disse que preciso ouvir música na rádio? quem disse que preciso estar no show ou na festa do momento? quem me perguntou o que eu quero antes de tomar decisões por mim?

A gente quer voz! A gente quer ser ouvido.

Grite contra a imposição. Proteste contra a falta de ciclovias e ciclofaixas. Contra PEC 37. Contra o mensalão. Contra a administração que não sabe administrar. Chega de cercas e muros que nos protegem. Basta de dinheiro público utilizado para fins que não seja em beneficio da população. Ah, mas vale lembrar que a gente não quer evento que mascare nada. NADA. Porque a gente sabe que tem administração que faz pensando no dinheiro que vem. Dinheiro que vem por trás, por baixo, dos panos. A gente não aceita pão e circo. "A gente não quer só dinheiro e felicidade. A gente não quer só dinheiro, a gente quer inteiro e não pela metade..."Proteste em favor da saúde pública que respeite o cidadão; A gente quer respeito. A gente quer educação de qualidade, de que vale as cotas e a facilidade de acesso se não temos o básico. A gente quer governo que olhe, que escute, que sente. A gente quer governantes-pessoas. A gente não quer prefeito que se acha diferente do povo. A gente não quer diferenças. Chega de desigualdades.  Chega de violência. Chega de impunidade. Chega de balas. Chega de "calar".

Pode começar pequeno, em casa, na rua de casa, no trabalho. Comece com atitudes. Se quiser levante cartazes, bandeiras... Não fique com o silêncio. Não aceite a ditadura.  Decida o que prefere protestar. Levante da poltrona. Saia da frente do computador. Reivindique seus direitos. Manifeste-se.

"Porque há direito ao grito. Então, eu grito" Clarice Lispector

domingo, junho 16, 2013


"Prefiro que as palavras brinquem comigo"

ou Tatiana Belinky .... e quem quiser que conte outra.

Fui dormir um pouco mais triste neste sábado. Ao chegar em casa recebi a triste notícia que Tatiana Belinky havia nos deixado.


Tatiana tinha doçura, a calma e a suavidade do cantar dos pássaros nas manhãs bonitas de primavera. Tinha a tranquilidade das músicas de ninar.

Tatiana foi vencedora do Prêmio Jabuti de 89, tinha mais 270 títulos publicados, entre eles, LimeriquesO Grande Rabanete, 17 é TOV.

Tatiana foi roteirista, adaptou O sítio do picapau amarelo para a tv. Fez teatro. teatro para criança.

Tatiana nasceu na Rússia, mas veio para o Brasil ainda menina, onde continuou com a alma de menina pra sempre. começou a ler aos 4 anos e até pouco tempo foi tradutora.

Tatiana traduziu diversas obras, entre elas contos de Anton Tchekhov. Mas sua tradução mais importante foi conseguir colocar toda sua alma intensa em todos seus textos. 

Tatiana tinha a leveza nos olhos e na escrita. Tinha o gosto pela literatura e pelas crianças que transbordava, e tanto me incentivou a gostar de ambos. 

Tatiana tinha uma voz carregada de emoção e de paixão pelo que fazia. 

Tatiana era uma senhora muito antiga, mas não velha, pois dentro dela morava uma criança, aquela que ela foi há muitos anos (como ouvi da própria escritora em uma de suas entrevistas)

Tatiana tinha uma biblioteca imensa em sua casa. sempre quis ter uma biblioteca imensa como aquela que sempre vi nas entrevistas de Tatiana. 

Tatiana era uma das escritoras que tanto admirei e gostaria de ter a honra de ter conhecido.

Aprendi com Tatiana que a gente não deve deixar de ser criança. Deve carregar-se de espontaneidade e deixar moralismos de lado. "O verbo ler não comporta imperativo, assim como o verbo amar"

É completamente impossível falar de Tatiana no passado. Tatiana será pra sempre eterna. Tatiana é tão linda como sua obra. Tatiana é tão doce como sua fala. Tatiana é tão profunda como suas histórias.

Escritores não morrem, escritores deixam obras (mais ou menos como dizia Borges)

Tatiana quando pequena queria ser bruxa. Eu queria ser Tatiana.


Tatiana Belinky em entrevista para o Cocoricó

segunda-feira, junho 03, 2013


Como andar de bicicleta

"É mais difícil matar fantasmas do que uma realidade"
Virginia Woolf



Eu nunca fui do tipo que segue padrões. Nunca. Enquanto todo mundo gostava de suco de morango, eu pedia suco de caju, mas engana-se você que acha que era para ir contra, é que na verdade, eu nunca gostei das coisas que todo mundo gostava. Quando gostava, gostava e pronto, assumia.

Não sou adepta de bebidas alcóolicas e carne vermelha. não me crucifique por isso. meu vicio está nas doses exageradas de chá verde (pode fazer cara de nojo) e suco de uva, assim como sou viciada em livros, desenhos de passarinhos, bicicletas, microfones e doces.

Quando ainda pequena minhas amigas queriam ser médicas, professoras, e eu queria trabalhar na tv. Sempre quis, muito antes disso tudo estar no centro das atenções.

É mas, nem sempre foi fácil. Enquanto todo mundo comia carne, eu me 'deliciava na sopa instantânea'  e nunca reclamei. Sou do tipo que se precisa fazer alguma coisa que eu não quero, mas não tem outro jeito, faço, mas faço do meu jeito. Se é pra ir pra praia vamos, mas vou de maiô, chapéu e bermuda, é só o meu jeito de enfrentar a situação. Enquanto todo mundo quer uma biz, eu quero uma bicicleta e pesquiso sobre formas alternativas de viver. 

Tirei carta, contra minha vontade, sabendo que é uma necessidade, odiando dirigir, meus pais acham um absurdo comprar uma camera ao invés de um carro. Assim, como minha familia toda ainda não entende muito bem  o que faço. Eles sabem que mexo com comeras e escrevo, desde 2005, quando escolhi um curso lá, que não era medicina, biomedicina, fisioterapia, direito, nem nada muito padrão. Fui fazer comunicação. Faz 8 anos que eles não compreendem muito bem minha vida. algo um pouco fora do padrão. 

Gosto de arte de rua, frases nos muros e tenho uns desenhos marcados na pele. Algumas pessoas não gostam desse meu gosto e me olham torto por isso; gosto de escrever e ler e não faço nada muito igual.

Certamente você não me encontrará na fila do cinema pra assistir ao filme do momento, muito menos na balada que 'bomba' na cidade, não verá minha foto na coluna social, muito menos fazendo obaoba pro jornalista bambambam do jornaleco da cidade, porque meus gostos passam longe do glamour que pseudo-socialite falida que a massa interiorana adora achar que é chique acha bonito.

Minhas opiniões não pairam sobre aquilo que eu li no livro de autoajuda ou naquele mais vendido, pois não é essa a literatura que me agrada. Tenho dificuldades em aceitar aquilo que todo mundo curte e me questiono sobre isso.

Você pode achar tudo isso muito umbiguista, egoista, narcisista ou o que bem entender. me desculpe. ache o que achar. minha opinião não muda muito fácil por causa da sua. Levei anos pra aprender que a gente não precisa - e nem vai -  agradar a todos. 









domingo, junho 02, 2013


Bang Bang




Não tinha medo o tal João de Santo Cristo

Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
Legião urbana 



Quem me conhece sabe que sou uma grande admiradora da sétima arte (principalmente dos filmes que só rolam no circuito alternativo). Claro que tenho minhas preferencias, diria que um pouco distintas da população em geral. Nunca assisti "Transformers", muito menos "Velozes e Furiosos". E odeio filmes com efeitos especiais. Gosto dos filmes 'crus', onde o roteiro, a interpretação dos atores, a trilha, pesam mais do que qualquer outro recurso que disperse o telespectador. Sempre preferi as salas de cinema vazias (como no filme Che) a toda aquela agitação característica.

Minha lista de favoritos, com raras exceções, passam longe do nosso país. Sempre olhei torto para produções da  Globo Filmes, principalmente aqueles que trazem os humoristas da telinha. Porém ontem fui assistir Faroeste Caboclo, uma parceria entre a Globo Filmes e Tele Cine productions.

Há exatamente 1 mês depois de assistir Somos tão jovens - e enfrentar uma longa fila - assisti a tão comentada história bang bang de João de Santo Cristo, Maria Lúcia e Jeremias.

Perdoem-me os fãs de Legião (quando a banda no auge do sucesso, meus interesses não passavam dos de uma menina de 3, 4, 5 anos, no máximo), mas o que me levou ao cinema foi ficar sabendo que Rene Sampaio, diretor do longa, bebe na mesma fonte de Tarantino, que ambos são fãs fervorosos da faroeste spaghetti,  imortalizada pelos italianos Sérgio Leone e Sergio Corbucci.

Faroeste Caboclo é uma espécie de filme que a grande maioria, assim como eu, não está acostumada a ver no cinema nacional (sempre com roteiros parecidos aos de novela). Gosto de finais surpreendentes que vão além do "e foram felizes para sempre".

Claro, que os roteiristas se apoiaram na canção homônima, mas a diferença de ouvir a história e vê-la é um pouco diferente. As linguagens são diferentes e a interpretação dos atores pesa demais. Destaque para Fabricio Boliveira, que dá vida lindamente ao personagem principal, mesmo sem falar nada consegue transmitir tudo, ele não coloca o personagem na categoria mocinho ou bandido.

Faroeste Caboclo me surpreendeu. Parece que o cinema nacional descobriu Renato Russo que queria aos 20 ser cantor, aos 40 cineasta e aos 60 escritor. Parece que a indústria cinematográfica de certa forma realizou o sonho do cantor. Que venham os próximos. 'Eduardo e Monica' parece que encabeça a lista. Vamos aguardar.


sábado, junho 01, 2013


Os textos e os escritores

O legal de trabalhar em uma editora, entre diversas outras coisas, é ter contato com os originais dos escritores antes do grande público.

Poder ver o texto antes dele se unir as ilustrações e passar pelo trabalho da diagramação pra mim é mágico, porque consigo medir todo meu apreço por ele.

Quem analisa o texto, decidindo se ele vai ser publicado ou não, é o conselho editorial. O texto só chega pra equipe que vai 'trabalhar' (de certa forma) nele depois de passar pela análise.

Quando gosto e me envolvo com o texto antes dele passar pelas etapas iniciais para virar livro, fico ansiosa para me apaixonar ainda mais quando ele estiver  pronto, quando as páginas coloridas trazem o texto e aquele aroma que só os amantes de livros sabem o que é.

Tem livro que a ilustração salva o texto, tem ilustração que complementa o texto e texto que não precisa de ilustração.

Fico só imaginando os primeiros leitores de Howl - que rendeu posteriormente processo ao escritor e ao editor -, de Allen Ginsberg, ou On the road, de Jack Kerouac, que marcaram a geração beat, ou até mesmo, Harry Potter, de J K Rowling, que foi recusado por várias editoras antes de ser publicado e se tornado um fenômeno. Imagine se os editores não tivessem se apaixonado e acreditado no trabalho deles? Imagine quando os originais de Kerouac ou Ginsberg, antes mesmo de 50,  ou mesmo Clarice Lispector, Virginia Woolf, Jane Austen e tantos outros, talvez aos chegarem nas editoras seus nomes não tivessem o peso que têm hoje, mas seus textos independente de tudo cativaram e, de certa forma, envolveram quem os publicou.

Tem texto que é muito bom e não precisa do peso do nome do escritor. tem texto que é bom, mas precisa  de escritor de nome pra vender e tem texto que por si só não precisa de nome de escritor pra segurar a obra. Tem escritor que só quer fama de escritor. Tem escritor que não gosta de aparecer e escritor que vive de aparecer. Tem escritor que não sabe escrever, mas quer publicar. Tem escritor que acredita no que faz e faz porque acredita. Tem escritor chato, escritor simpático, escritor que fala demais e escritor que é escritor de verdade.

Prefiro os escritores que acreditam na sua obra e deixam que elas falem mais (do que e por)  eles.

Kerouac e o rolo de 37m que se tornaria sua obra mais famosa, On the road


sexta-feira, maio 24, 2013


Mais do mesmo II

A saída não é criarmos um blog de moda, um novo reality, levar colunismo social a tv do interior ou apostar na fórmula - mais que - batida do stand-up.

Tudo isso é muito fácil. é muito seguro.  Quase ultrapassado. Por que apostar no clichê? Esses que chegam antes mesmo do que o nosso pensamento. esses que já não provocam mais sentimento algum.

Não é porque a Gloria Perez achou que poderia dar certo, errou a mão na última novela das 9, que a gente vai acreditar que tudo é clichê. Que a vida é clichê, e vai lá, pronto, e copia. Não, não é assim. E é justamente por isso que a gente sabe que o clichê não dá certo.


Ainda mais clichê do que texto jornalístico que abusa das crateras, dos gols da rodada e do 'tem passagem pela policia', tem gente que ainda acredita e aposta que fazer da vida um clichê, um quadro que alguém já pintou, uma música que alguém já cantou pode dar certo.

É fácil copiar estilos, e formas, e modelos que deram certo. O difícil é ter a coragem de apostar no novo e fazer.  Porque ainda mais clichê do que o próprio clichê, viver é arriscar, é improvisar, é criar, é parar de insistir no mais do mesmo.





terça-feira, maio 07, 2013


Mais do mesmo I



Eu não sou o tipo de gente que tem opinião pra tudo. Me crucifique, mas não acho devemos ter uma opinião formada, na ponta da língua, sobre tudo, justamente porque sou do tipo de gente que acredita que a opinião deve ser espontânea.

Taí ESPONTÂNEA.

Independente de considerar certo ou errado, não acho que somos obrigados a dar opinião, porque as vezes não a temos. E dar opinião só por dar, é melhor ficar calado.

Não sei o que dizer sobre impasses comerciais, trigonometria ou análise combinatória. Na verdade não tenho o que dizer. Ah sim, só sei que odeio matemática e que só tenho uma opinião sobre ela quando vejo meu saldo bancário (somando as contas e diminuindo o saldo).

Eu não sou o tipo de gente que se mete em dar opinião sobre tudo, porque eu sou do tipo de gente que não tem opinião sobre tanta coisa...

Mas conheço um tipo de gente que é formada em ciências sociais e técnicas  de assuntos randômicos, nota 10 em todas as matérias, expert de receitas de bolo à candidato a vaga pra NASA, e por tal competência se julgam na posição de poder criticar, e exercer, E opinar em todas as áreas, E setores, da vida (incluindo o quesito profissional também)

Acho um barato esse grupo, a categoria encabeça a lista dos pseudos, eles julgam, afirmam, e acham que sabem tudo. Me desculpem, esse grupo não acha, eles têm certeza, independente do julgamento do seu olhar. Tome cuidado, não interessa o que você pensa, o que você faz ou sabe.

A internet fez crescer e muito esse ramo de atividade. Basta entrar no Facebook (que tem se popularizado muito entre eles, pena que, mesmo não admitindo, mal sabem usar) e Twitter,  é difícil não encontrar alguém pronto pra debater. Não precisa ter muitos argumentos, basta discordar, ser enérgico, virulento e escrever bastante, mesmo que nada faça sentido. Precisa ser polêmico. Esta é a palavra da vez.

Mas quer saber, são justamente essas pessoas que me fazem ter ainda mais convicção de que não preciso ter opinião, de tudo, pra todos, o tempo todo. Não vale a pena. Porque eu não sou obrigada - ainda.


PS. 1: Hoje em dia, pra tanta gente,  a gente é o que a gente conta pra todo mundo, então, veja bem qual grupo quer fazer parte.

PS. 2 : Se você tiver, pode deixar sua opinião neste texto

 

domingo, maio 05, 2013


Teatro é um barato, mesmo?

Ontem fui assistir à peça que há muito tempo queria ver e, finalmente, 4 anos depois da estreia em Brasilia, entrou em cartaz  por aqui. Simplesmente eu, Clarice Lispector,  vencedora do Prêmio Qualidade Brasil, trata-se de um monólogo com a atriz Beth Goulart, que além de atuar assina adaptação e direção do espetáculo, e domina com maestria o palco e dá vida a escritora, os conceitos e personagens clariceanos.



Para uma apaixonada descontrolada por Clarice - que compra novas edições de livros só para ter todas as capas - assistir ao que você sempre leu nos livros, em apenas uma entrevista em vídeo - que você já viu e reviu várias vezes -  e apenas uma entrevista em áudio - e quase que acompanhar a atriz nas falas, é incrível.

O sotaque nordestino com língua presa, muito confundido com sotaque estrangeiro,  de Clarice é interpretado belamente por Beth que também traz 4 personagens a cena.

Destaque para os delicados recursos audiovisuais - afinal, em época onde todo o público presente está munido de seu smartphone...  -  que desde a trilha, quanto o vídeo projetado no momento que se faz referencia ao conto AMOR. Tudo complementa sem deixar de sobressair a proposta que é apresentar a trajetória e entendimento da escritora com relação a assuntos variados.

Bem, realmente fui assistir a peça, porque era um caso de amor antigo, mas ao me deparar com o valor do ingresso - 60 reais (inteira) na bilheteria e 69 antecipado pela internet - passei a refletir sobre como colocar o teatro ao alcance da população com ingressos que custam cerca de 10% do salário da população comum?

Será mesmo  que é dessa forma que iremos popularizar o teatro? Será mesmo que o trabalhador que ganha 1 salário mínimo, que tem despesas com aluguel, conta de luz, água e criança pequena vai estar na plateia? Adianta ter leis de incentivo para peças levando cultura ao povo se não levar o povo até a peça?  Um pouco contraditório tudo isso não? Será mesmo que meia entrada para estudantes,  idosos e professores é a única maneira de incentivar a cena teatral?

Quantas pessoas terão oportunidade de ver essa maravilha e prestigiar a maravilha que é o teatro?

Palmas em pé para o espetáculo. Mas será mesmo que literalmente o teatro é um barato?

quarta-feira, abril 10, 2013


Das velhas diferenças




Que somos todos diferentes uns dos outros, estamos cansados de saber, mas quando atendo o telefone da editora, porque a atendente não está, eu percebo nitidamente essa diferença. Sabe aquela coisa do preconceito que citei no texto anterior? Então, ninguém admite, porque hoje em dia todo mundo é cabeça aberta, mas fica claro principalmente quando se trata do "sabe com quem você tá falando?"

Quem me conhece sabe que não faço a menor diferença se é presidente, encarregado, subordinado ou desempregado, mas tem gente que faz e mesmo que não queira deixa claro isso. Pra mim não faz a mínima diferença se o indivíduo trabalha na feira ou é presidente de uma multinacional; se hoje seu ganha pão está na banca da esquina, vou tratá-lo com o mesmo respeito se amanhã ele ocupar a cadeira  de presidente do senado - não que essa seja a melhor profissão do mundo. convenhamos.

A maior bobagem é acreditar que a pessoa é o cargo que ocupa, aquilo que tem, na garagem, na conta corrente ou no sobrenome. Uma das coisas mais vergonhosas é realmente cogitar que alguma coisa te faz melhor que alguém.

Voltando ao telefone da editora, só estou escrevendo este texto devido a atendente não ficar muito na mesa dela e isso, consequentemente, me obrigar a atender o telefone. Quando as pessoas não sabem com quem estão falando, mesmo que esse alguém, seja a telefonista - e isso não deveria fazer diferença -, eles tratam com rispidez e grosseria, nem de longe é a mesma gentileza quando falam diretamente com moça do audiovisual depois de serem transferidos. Não que eu esteja reclamando, pois acho impossível mudar certas coisas, justamente porque as pessoas refletem aquilo que são.

O problema é que essas mesmas pessoas que acreditam que só quem sai em coluna social, quem aparece na tv, quem tem sobrenome tradicional, quem tem cargo importante, quem tem carro do ano e cartão de crédito sem limite é que merecem respeito,  mas essas tais que não mereciam sequer uma dose do dito cujo, o problema é precisamos manter o politicamente correto, a regra da boa convivência.

Acreditar que optar por uma vida alternativa, andando de bicicleta, a pé ou de ônibus, o faz pior que o indivíduo que anda de Bugatti Veyron só pode ser pura ignorância.  Humildade e respeito não é questão de dinheiro no bolso.




segunda-feira, abril 08, 2013


Enquanto todo mundo tem o que falar


Não se trata apenas de sair pelas ruas com faixas e rostos pintados gritando "Protesto!". Envelheci e creio que essa não seja apenas uma constatação do meu reflexo no espelho, da cor - ou a falta de - do cabelo, as linhas que já marcam a pele deixando nítido que o tempo passou.  Não. não precisa se compadecer da minha situação, até porque isso não é ruim. A medida que os ponteiros do relógio viram sem você se dar conta e as folhinhas do calendário vão sendo destacadas, a gente passa a abrir mão não apenas de disputar no volume da voz, na rebeldia, na cara feia, no "te pago na mesma moeda"... Com o tempo a gente passa a se importar menos com o que os outros vão pensar e se importar mais com o que você pensa.

Não compartilho maus tratos de animais, campanhas sem sentido,  fotos sensacionalistas, muito menos discussões rasas de quem não sabe muito bem o que defende. Fica difícil ver criança pedindo dinheiro na rua e não dar, mas é para o bem do indivíduo.

Não acredito em manifestações de quem não levanta da cadeira e adora gritar aos sete ventos, pois pra participar da ola basta, por alguns minutinhos que seja, levantar a mão e nisso o estádio inteiro participa.
Embora seja triste confesso que a minha enxaqueca me representa muito mais que os governantes que eram pra me representar. clichê. Talvez isso não faça o menor sentido pra você, assim como não faz sentido acreditar em democracia, quando aquele #Felicianoquenaomerepresenta - que só está lá porque foi eleito -  sem perfil nenhum para ocupar o cargo justamente de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Que coisa, não? Pois é, justamente hoje. hoje que todo mundo tem a mente aberta e que preconceito é como xingar a mãe ou coisa pior - não que realmente não seja. Mas é tão fofo ver que as pessoas - ou a grande maioria delas - não tem preconceitos com relação a classe social, cor da pele, opção sexual... pelo menos não diante dos olhares atentos na rede mundial dos computadores.

Enquanto tanta gente tem o que falar, eu prefiro ficar em silêncio. Porque certas vezes o silêncio também é uma forma de protesto e eu prefiro apenas ler o livro que eu escolhi ler, não o que me foi escolhido.

sábado, março 30, 2013


Sobre essa nova cara

Algumas coisas mudaram e eu também. em breve... coisa nova por aqui.

sábado, janeiro 26, 2013


Daquilo que eu vejo, sinto. E me calo.


Todos estão surdos, e mudos...




Até quando vamos aumentar nossos murros, colocarmos cercas e vivermos em gaiolas? Até quando nossas estruturas serão firmadas em cima de dinheiro e poder?
Enquanto a base da sociedade não for a educação do que adianta investir em segurança? Mais policiais corruptos, assassinos. Mais CDPs e penitenciárias. Pra que? Pra o crime crescer e se organizar - ainda mais - e nós permanecermos trancados? 

Sabe o que acontece, estamos cansados de discorrer sobre o tema, de nos depararmos com manchetes que nos amedronta, de vermos que crimes e mais crimes ficam apenas nas estatísticas. Aí vem aquele discursinho clichê de investir em educação.

Mas espera ai, investir em educação traz retorno? Para que queremos cidadãos pensantes? Não é mesmo governo? Pra moradores de áreas que não tem rede de esgoto se lembrarem disso e não se distraírem mais nas belas e arborizadas praças? 

Caiu a ditadura, a população pode enfim escolher seu representante - e até hoje escolhe mal, mas isso nada mais é do que espelho de quem os elege -, aumentou o número de estudantes nas universidades - e o número de universidade, e caiu a qualidade delas -, cresceu a desigualdade social e os problemas que já existiam ficaram maiores. Cresceu a marginalidade, a violência e, nós, ficamos a mercê de tudo isso. 

E a educação que pode transformormar a sociedade fica a espera de algum governante que não pense apenas no seu bolso. Pois, educação de verdade a gente só podera ver daqui há 20 anos, investindo hoje. Mas se mudarmos a forma de ensino, não apenas transmitir conhecimento, mas formando cidadãos.

Cidadãos que podem governar um pais, um estado, uma cidade e investir em educação, acreditando que a educação combate a criminalidade, que a educação gera emprego, que a educação pode mudar a realidade, não administradores que investem em educação porque de certa forma vão lucrar com isso. Porque hoje tudo se baseia no dinheiro, no quanto eu vou ganhar. 

A educação cria gente que não joga lixo no chão, que recicla, que tem melhores possibilidades de emprego, que pensa, que recebe bons salários, que acredita que a diferença entre uma pessoa que tem um carro importado do ano ou uma bicicleta, ou que anda de onibus, é apenas questão de preocupação com o meio ambiente.

Alguém precisa pensar. e mudar esta triste situação.



domingo, janeiro 13, 2013


Diante de qualquer impossibilidade

Com uma sinfonia de passarinhos lá fora




Gosto especialmente de manhãs claras, quando as folhas das árvores bailam numa valsa ritmada pelo vento, brincando de esconde-e-aparece com os raios solares; e faz aquela pose para foto.

Na verdade, eu queria que meus olhos fossem pequenas câmeras fotográficas para registrarem toda e qualquer paisagem bonita, essas que a gente olha, dá uma enquadrada e pensa: "Daria uma ótima foto."E depois fica admirando, e admirando. Por que não?

Porque seria lindo guardar pra sempre o exato momento que a abelha poliniza a flor do maracujá; quando o dente-de-leão, despretensiosamente, todo lindo, no meio do mato baixo, balança no caminho do trabalho; quando a calçada fica repleta das flores do ipê; quando olho para o céu azul de brigadeiro lindo, lindo; o pôr-do-sol com aquela luz que tem o poder deixar tudo mais bonito; aquele sorriso de quem você não conhece e o sorriso verdadeiro de quem conhece; o passarinho de espécie rara que pousou perto de você; a chuva que cai; e a família reunida comendo panqueca, de domingo à noite, na mesa da sala de jantar.

Assim, num piscar de olhos. Click. e eu guardo pra sempre.

Sabe o que aconteceria? Seria mais fácil jogar fora, assim como fotos que são rasgadas, as noticias ruins do jornal que lemos, a propaganda mal feita, o programa mal pensado, o saldo negativo, uma discussão que machuca, o chefe que não compreende, as palavras grosseiras, a falta de amor, de carinho, de compreensão, de respeito, as atitudes de preconceito, arrogância, desonestidade, as conversas fiadas, vazias, gente vazia. Tudo aquilo que não nos enche os olhos. E pronto. Joga no lixo.

E como se fosse verdade. Click. a gente joga fora, mas guarda pra sempre.

Não adianta, a gente guarda o que nos magoa mais do que coisa bonita.

É melhor deixar do jeito que está.

...

Gosto quando acordo de sonhos bonitos, abro a janela, me deparo com manhãs claras, com as folhas das árvores dançando no ritmo do vento, quando tudo isso me inspira a uma outra possibilidade.

E click. tudo volta ao normal.

















segunda-feira, janeiro 07, 2013


"Vida é ter um Hyundai e uma Hornet/10 mil pra gastar " não é colocar o "Dedo na ferida"


Aumente o som que o fluxo estourou no youtube e toca loucamente no celular - que é uma espécie de rádio - da molecada que anda em grupo. Os carros que cortam a avenida, em baixa velocidade trazem, em seu volume máximo, um tal de poxa vida hein, uow! e uma continuação de não vale a pena com não faz sentido, misturados a bebidas, mulheres, carrões e muita ostentação.

É o funk da zona leste, com sotaque paulista, que desceu a serra, contagiou a capital e o interior, e agora sua batida - base para todas as músicas do gênero - bate forte em nossos ouvidos. Suas letras avaliadas em - cerca de - 400 mil reais demostram o que a classe emergente gosta e quer. Nada de denuncia, só aspirações sociais.

Porque é justamente isso o que a gente é.  Exibicionismo. Gente que exibe felicidade instantânea. Gente que tira foto no espelho pra postar no facebook.  Gente que mostra que pode comprar red label, big apple e absolut - e isso é o mais importante.Vai me falar que você também não acha que é bem melhor a estante repleta de garrafas de whisky à livros? Afinal, é muito melhor correr na areia da praia, e bater o bumbum na água, rebolando, rebolando à saber conversar sobre política, economia, literatura e conhecimentos gerais. 

Sim, porque a gente sabe que educação nunca foi o mais importante desse país - e nem é interessante ser - ,  assim como não sou a melhor pessoa para julgar/analisar gêneros musicais, porque quem pensa não aceita qualquer tipo de batida nos seus ouvidos. 

Agora você joga no google: MC Danado, MC Rodolfinho, MC Bola, MC Nego Blue, MC Dede. Precisa? Vai falar que você não conhece. Ah, vai me dizer que você não sabe "como é bom ser vida loka"?






sábado, janeiro 05, 2013


Em tempos de guerra


Poderia ser ao som do Roberto, mas o parapapapapapa cairá melhor. 


Certa vez me apeguei em um verso de Adélia Prado que dizia: "A vida é tão bonita / basta um beijo /  e o universo se recompõem / uma necessidade cósmica nos protege". Pronto, como se fosse assim olhando o horizonte caminhando na areia da praia e recitando os versos. O Senhor não abandona, a necessidade é cósmica, protege.

Aí, você ali, sem nenhum plano de imediato, resolve ligar o rádio, não gosta do vitrolão que se transformou a FM, muda o dion, e a noticia é a mesma da tv, daquele programa de fim de tarde, assassinatos, assaltos, suicidios, mentiras, injustiças, chuvas, desmoronamentos, mortes, mortes, mortes e mais mortes. Assim como a tv, o alto-falante derrama sangue.

A vida foi reduzida a um grão de areia que o vento leva. E a vida que é tão bonita...

É bem isso que se transformou tudo isso. Ninguém mais oferece flores. Ninguém mais oferece um sorriso no rosto. Onde foi parar o respeito, a tolerância e a os sentimentos bons? Alguém viu passar por aí, nem que seja de relance, caminhando despreocupado ou correndo, de alguém, da gente, com medo de gente. Gente que não sabe levar na brincadeira, gente que não sabe relevar, gente que resolve tudo com um, dois, três facadas, gente que quer fazer furinho em gente pra resolver, gente que dá tiro. Tiro de revólver, pistola, metralhadora. Tiro de arma que a gente não conhecia e aprendeu no programa do Datena. Tiro certeiro que cala, silencia.

Porque é muito mais fácil roubar, roubar a vida, roubar o povo - aquele que te colocou no poder -, roubar o sorriso, roubar a voz. Aí, eu peço, tente fazer diferente que eu também vou tentar. Estou tentando.

Aí você retoma os versos da Adélia, pois é, a vida que é tão bonita.... que um dia foi bonita... continuará sendo?



sexta-feira, janeiro 04, 2013


Claridade


Como um dedilhar de piano...



Minha vida sempre foi mais cinematográfica do que jornalística. Mais açucar. Bem mais Clarice Lispector do que Nelson Rodrigues. Uma canção assim simples, com a suavidade francesa,  com dois ou três acordes, meio Thiago Pethit, Tiê, Los Hermanos, Carla Bruni, Nara Leão. Um roteiro chapliano, a la Luzes da Cidade, com pitadas de nouvelle vague

Talvez seja por isso que o simples me envolve e me seduz. Deve ser por isso que desenhos de coração, as máquinas de escrever, o jardim de gerberas, a bicicleta, as cartas, os manuscritos, a boa e velha câmera lomo,  o bonito que é sonhar, me encantam. Porque eu sou um filme bonito que assisto, uma música que toca profundamente, um livro que leio, uma melodia que embala, uma letra bem simples que se mistura ao som da chuva, os traços de uma ilustração, um roteiro que você quer morar dentro.

Porque eu sou o tipo de gente é absorvida pela coisa que ama e que leva o que gosta para o cotidiano, que vive o que lê, que acredita em tuas ideologias e as defende.  Porque 'as únicas pessoas que me interessam são as loucas, aquelas que são loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas; as que desejam tudo ao mesmo tempo' (Jack Kerouac). Deve ser justamente por isso que sou tomada pelos escritos de Caio F, que tanto falou dos dragões, da astrologia, do doce, daquele doce, que fosse tão doce. Deve ser por isso que gosto do cinema vazio, do rádio, do livro para combater a insônia...

Poderia falar do prefeito, da propina, da divida, dos desvios, do SAS, da nomeação do secretariado, do bolsa família, da palhaçada que é a política nesse país, mas não, hoje decidi falar o que acho bonito.

quinta-feira, janeiro 03, 2013


Em tempo


Como dizia o Marcelo Paiva: feliz ano velho…



Um prato de lentilhas, sete ondinhas, uvas, romãs, roupas brancas pra trazer paz no ano que chega,  amarelo, porque atrai dinheiro, champanha de reveillon - que a gente sabe que é espumante. 

Para um feliz ano-novo é necessário muito mais que mandingas e crendices populares. 

Você que queria um ano novo renovado, e reclamou tanto do velho, taí 2013 chegou. Chegou juntamente com a pseudo-champanha que explodiu, com a queima de fogos no meio mar de Copa, na festa do Copacabana Palace, na orla da Praia Grande, no funk paulista da zona leste ou na telinha da tv que se liga em você. Não importa. Onde quer que você tenha inaugurado o ano novo que aos poucos vai virando arroz de festa e pronto. Já é ano velho de novo.

Para um ano novo que faça jus ao nome, deixe pra lá as tempestades solares, acredite na vibração do 6, no azul royal que é a cor do ano novo que chega, e se acredita no horóscopo, 2013 começa com a força combinada de Júpiter e Urano - e se você acredita mesmo, deve saber o que isso significa. É necessário que se acredite nos novos sonhos - pode ser os que não foram realizados no ano que passou - ,  que se faça novas promessas, que se escreva cartas, de amor, de amizade, de desejos,  uma nova lista a se realizar, que as primeiras linhas sejam de amor, paz e respeito. E que os pedidos não sejam tão superficiais como aumentar o número de amigos no facebook.

É preciso que a felicidade no ano novo não esteja extremamente ligada ao dinheiro que nos restar no bolso. Que ela vá além daquela que se mostra nas mídias sociais. E mais ainda, que tolerância, embora clichê, tenha sido um dos nossos pedidos para o ano que chegou.

Para se viver um ano novo é necessário, declarar o imposto de renda e -  com o que sobrou no bolso - pagar o ipva, iptu, além das contas mensais de água, luz, aluguel, telefone, cartão, além daquelas outras continhas que você tem, material escolar dos filhos, o colégio... Aí vem o Carnaval, feriado, a Páscoa, o Dia das Mães, e se não sobrar dinheiro? Ah, aí o feliz ano novo fica pra quando o próximo ano novo chegar. 

Subscribe

Licença Creative Commons