quarta-feira, novembro 23, 2011


Une petit chanson

Diria que ela vai tecendo um bordado de amor com as linhas mais nobres que a vida lhe oferece. Vai esvaziando os bolsos a cada esquina durante o caminhar, porque o que mais lhe interessa nessa vida cabe dentro do coração, de um abraço apertado ou num soriso sincero.

E dentro do seu músculo escarlate batedor cabe um punhado de alegria que é pra combater a maldade e as pessoas de mau coração.

Fecha os olhos e respira fundo. Conta até três. Rouba umas estrelas do céu.

Assopra o dente de leão, os sonhos, o pozinho de pirilimpimpim e todo bom humor, que é pra ver se alguma chega até o desanimado do canto.

Salta as pedras do caminho e constrói pontes onde há abismos, dança um ritmo novo, a cada dificuldade um riso e um brilho mais forte no olhar. Assim tem mais graça. Dá mais coro. Dá o tom.

Desamarra as botas. E o peso das costas.

Mas ela se protege da fábula do lobo e do cordeiro e dos lobos em pele de cordeiro. Inevitável. Nem todo mundo vive une petit chanson.

Faz o sinal da cruz, acende uma vela ao anjo da guarda, reza um pai-nosso e uma ave-maria. Não grita ao sete ventos sua felicidade, ao contrario, fala baixinho, soa mansinho, dá um sorissinho que é pra o mau olhado não olhar.


terça-feira, novembro 15, 2011


Pra quem sonhou com possibilidades

Levantou da cama. Assim como quem está disposto a mudar tudo e só fazer o que realmente lhe dá prazer. Seguiu em direção a cozinha. Tomou seu café da manhã como há muito não fazia, escolheu só que realmente queria saborear. Abriu o jornal, mas só leu o que lhe interessava, dessa vez.

Pegou o telefone e discou aquele número que sabia de cor. Justo a telefonista-recepcionista- cuido de tudo, sempre mau humorada, atendeu.

- Avisa aí que eu não vou trabalhar hoje – sem mais – Obrigada.

- O chefe quer falar com você. – respondeu sem mais também. Transferiu

Quando é assim, normalmente o coração saltava a boca. ‘Imagine já chegou e já avisou que quer falar comigo’. Dessa vez era diferente, não fazia questão.

Musiquinha chata. Pronto, atendeu.

- Não precisa vir trabalhar. Pagaremos pra você colaborar conosco com seus textos, textos impares. Maravilhosos por sinal. Já estamos sabendo que uma grande editora gostou mesmo de seu material. Vão publicar seu livro. Ah, tem uma revista de grande circulação quer seus textos quinzenalmente. Ótimo não?

Pois é, mas parece que o chefe não era o chefe. Algo estranho.

- (confuso) – desligou

Atônito, foi o que saiu. Voltou pra máquina de escrever - os dedos e as teclas provocavam uma sensação inexplicável. Realizadora - e seu mais recente romance.

‘Ela volta ou não? Volta. Clarice volta e agora queria ser chuva...’

Um som que não sabia de onde vinha começou a invadir, atrapalhar e ficar cada vez mais forte.

Era o despertador. Tudo não passou de um sonho.

E a chuva caia lá fora. Enfim...


sábado, novembro 12, 2011


É pra ver se muda

Acenda um incenso de alecrim e aumente o volume da canção


Embora eu viva tropeçando em cara feia...

Plantei no jardim um pé de sorrisos, que era pra colher todos os dias um sorriso qualquer. Independente dos espinhos cultivei com todo amor, carinho e compreensão possível. Quando amanhecia nublado e algumas gotas ameaçavam cair, corria pra abrir o guarda-chuva que era para que os pingos não desfizessem aqueles sorrisinhos que estavam por surgir.

Aprendi com meus pais, é necessário deixar tomar o ar da manhã e depois proteger no período do sol intenso. Das 10 às 16 sempre arrumei uma maneira para que os raios fortes não o queimasse, uma espécie de protetor solar fator máximo.

Na esperança de que todos os dias ganhasse um botão-sorriso de presente esqueci uma porção de coisas – deixei esquecer - e passei por cima de palavras que me ofenderam e atitudes que me magoaram. Passou.

Mas infelizmente – ou felizmente – a rotina da vida atribulada me fez esquecer isolado no jardim o pezinho de sorrisos.

Passei a dar importância pra minha felicidade e para o que me fizesse sorrir independente de colhê-los ou não. Quantos espinhos, cara feia, falta de educação, gente de mal com a vida, desprovida de amor.

Hoje meu sorriso é mais importante e se o pé me der um sorriso ou outro o meu ficará ainda maior.

Mas na verdade mesmo, vou é torcer pra que nasça pés de gentileza feito capim.

quarta-feira, novembro 02, 2011


Divã

Às vezes eu sou àspera, mas é pra falar igual a você

Olha, eu realmente não estou agüentando mais este tipo de gente.

Achar dia ou outro que as coisas estão acontecendo por sua causa, a gente até entende e acha que pode até ser engano seu, mas todo dia, meu Deus, ninguém agüenta. Eu não agüento, e pra mim, já chega.

Essa gente que se acha o umbigo do mundo, o centro do universo, que a terra gira em torno delas. Caramba (pra ser educada)! É muito chato. Insuportável. Um desrespeito com o próximo. Desumano com quem está ao seu redor.

Pessoas assim a gente tem vontade de jogar pela janela naqueles momentos mais tranquilos.

Sabe, eu realmente não acho que a melhor tática pra se sentir bem é diminuir o primeiro cidadão ao seu lado. Se você se acha ‘grande’, tudo bem, problema seu, mas não transfere suas 'dificuldades' - porque só pode ser isso - para os outros. Esse lance de gigante a gente conhece bem nas histórias, ‘João e o Pé de Feijão’, Golias, os ogros de Grimm, entende?

Eu sei que você não concorda com isso de energia, mas tem gente que é tipo sanguessuga, credo.

Ah, e tem outra, típico dessa gente, essa coisa de usar nome e sobrenome pra impactar no telefone, ou locais badalados, não é minha praia. Eu detesto isso. Uma que eu tenho uma tendência quase hereditária para esquecer nomes de pessoas e outra, conta bancaria, carinhas bonitas (e cabeças vazias) ou sujeitos (julgados como) conhecidos, não têm de mim (e nem ganham) nenhuma preferência.

Comigo não tem essa de presidência, diretoria ou serviçais, pra mim todos são pessoas e pessoas merecem respeito, viu?!

Cara (pra falarmos a mesma língua), a vida não é um negócio e dinheiro, beleza e o raio que o parta, que você julga importante, não traz felicidade pra ninguém.

Porque felicidade pra mim é estar perto de quem eu amo, fazer o que eu gosto e o que quero, estar onde me sinto bem, pode ser de chinelo de dedo ou de salto bem alto e roupa bem chique, ou não, e não vai ser ninguém que me se julga ‘gente grande’ que vai me fazer mudar minhas opiniões.

Ah, e quando olhar pra mim me veja como um ser, um ser humano, que você sempre magoa com suas palavras, geralmente, de fogo.

Sabe aquele tipo de pessoa que o clima pesa, então.

Então, é isso. Era isso que eu queria dizer hoje.

Ufa. Eu sempre te alugo.

Até a próxima.

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