sábado, janeiro 26, 2013


Daquilo que eu vejo, sinto. E me calo.


Todos estão surdos, e mudos...




Até quando vamos aumentar nossos murros, colocarmos cercas e vivermos em gaiolas? Até quando nossas estruturas serão firmadas em cima de dinheiro e poder?
Enquanto a base da sociedade não for a educação do que adianta investir em segurança? Mais policiais corruptos, assassinos. Mais CDPs e penitenciárias. Pra que? Pra o crime crescer e se organizar - ainda mais - e nós permanecermos trancados? 

Sabe o que acontece, estamos cansados de discorrer sobre o tema, de nos depararmos com manchetes que nos amedronta, de vermos que crimes e mais crimes ficam apenas nas estatísticas. Aí vem aquele discursinho clichê de investir em educação.

Mas espera ai, investir em educação traz retorno? Para que queremos cidadãos pensantes? Não é mesmo governo? Pra moradores de áreas que não tem rede de esgoto se lembrarem disso e não se distraírem mais nas belas e arborizadas praças? 

Caiu a ditadura, a população pode enfim escolher seu representante - e até hoje escolhe mal, mas isso nada mais é do que espelho de quem os elege -, aumentou o número de estudantes nas universidades - e o número de universidade, e caiu a qualidade delas -, cresceu a desigualdade social e os problemas que já existiam ficaram maiores. Cresceu a marginalidade, a violência e, nós, ficamos a mercê de tudo isso. 

E a educação que pode transformormar a sociedade fica a espera de algum governante que não pense apenas no seu bolso. Pois, educação de verdade a gente só podera ver daqui há 20 anos, investindo hoje. Mas se mudarmos a forma de ensino, não apenas transmitir conhecimento, mas formando cidadãos.

Cidadãos que podem governar um pais, um estado, uma cidade e investir em educação, acreditando que a educação combate a criminalidade, que a educação gera emprego, que a educação pode mudar a realidade, não administradores que investem em educação porque de certa forma vão lucrar com isso. Porque hoje tudo se baseia no dinheiro, no quanto eu vou ganhar. 

A educação cria gente que não joga lixo no chão, que recicla, que tem melhores possibilidades de emprego, que pensa, que recebe bons salários, que acredita que a diferença entre uma pessoa que tem um carro importado do ano ou uma bicicleta, ou que anda de onibus, é apenas questão de preocupação com o meio ambiente.

Alguém precisa pensar. e mudar esta triste situação.



domingo, janeiro 13, 2013


Diante de qualquer impossibilidade

Com uma sinfonia de passarinhos lá fora




Gosto especialmente de manhãs claras, quando as folhas das árvores bailam numa valsa ritmada pelo vento, brincando de esconde-e-aparece com os raios solares; e faz aquela pose para foto.

Na verdade, eu queria que meus olhos fossem pequenas câmeras fotográficas para registrarem toda e qualquer paisagem bonita, essas que a gente olha, dá uma enquadrada e pensa: "Daria uma ótima foto."E depois fica admirando, e admirando. Por que não?

Porque seria lindo guardar pra sempre o exato momento que a abelha poliniza a flor do maracujá; quando o dente-de-leão, despretensiosamente, todo lindo, no meio do mato baixo, balança no caminho do trabalho; quando a calçada fica repleta das flores do ipê; quando olho para o céu azul de brigadeiro lindo, lindo; o pôr-do-sol com aquela luz que tem o poder deixar tudo mais bonito; aquele sorriso de quem você não conhece e o sorriso verdadeiro de quem conhece; o passarinho de espécie rara que pousou perto de você; a chuva que cai; e a família reunida comendo panqueca, de domingo à noite, na mesa da sala de jantar.

Assim, num piscar de olhos. Click. e eu guardo pra sempre.

Sabe o que aconteceria? Seria mais fácil jogar fora, assim como fotos que são rasgadas, as noticias ruins do jornal que lemos, a propaganda mal feita, o programa mal pensado, o saldo negativo, uma discussão que machuca, o chefe que não compreende, as palavras grosseiras, a falta de amor, de carinho, de compreensão, de respeito, as atitudes de preconceito, arrogância, desonestidade, as conversas fiadas, vazias, gente vazia. Tudo aquilo que não nos enche os olhos. E pronto. Joga no lixo.

E como se fosse verdade. Click. a gente joga fora, mas guarda pra sempre.

Não adianta, a gente guarda o que nos magoa mais do que coisa bonita.

É melhor deixar do jeito que está.

...

Gosto quando acordo de sonhos bonitos, abro a janela, me deparo com manhãs claras, com as folhas das árvores dançando no ritmo do vento, quando tudo isso me inspira a uma outra possibilidade.

E click. tudo volta ao normal.

















segunda-feira, janeiro 07, 2013


"Vida é ter um Hyundai e uma Hornet/10 mil pra gastar " não é colocar o "Dedo na ferida"


Aumente o som que o fluxo estourou no youtube e toca loucamente no celular - que é uma espécie de rádio - da molecada que anda em grupo. Os carros que cortam a avenida, em baixa velocidade trazem, em seu volume máximo, um tal de poxa vida hein, uow! e uma continuação de não vale a pena com não faz sentido, misturados a bebidas, mulheres, carrões e muita ostentação.

É o funk da zona leste, com sotaque paulista, que desceu a serra, contagiou a capital e o interior, e agora sua batida - base para todas as músicas do gênero - bate forte em nossos ouvidos. Suas letras avaliadas em - cerca de - 400 mil reais demostram o que a classe emergente gosta e quer. Nada de denuncia, só aspirações sociais.

Porque é justamente isso o que a gente é.  Exibicionismo. Gente que exibe felicidade instantânea. Gente que tira foto no espelho pra postar no facebook.  Gente que mostra que pode comprar red label, big apple e absolut - e isso é o mais importante.Vai me falar que você também não acha que é bem melhor a estante repleta de garrafas de whisky à livros? Afinal, é muito melhor correr na areia da praia, e bater o bumbum na água, rebolando, rebolando à saber conversar sobre política, economia, literatura e conhecimentos gerais. 

Sim, porque a gente sabe que educação nunca foi o mais importante desse país - e nem é interessante ser - ,  assim como não sou a melhor pessoa para julgar/analisar gêneros musicais, porque quem pensa não aceita qualquer tipo de batida nos seus ouvidos. 

Agora você joga no google: MC Danado, MC Rodolfinho, MC Bola, MC Nego Blue, MC Dede. Precisa? Vai falar que você não conhece. Ah, vai me dizer que você não sabe "como é bom ser vida loka"?






sábado, janeiro 05, 2013


Em tempos de guerra


Poderia ser ao som do Roberto, mas o parapapapapapa cairá melhor. 


Certa vez me apeguei em um verso de Adélia Prado que dizia: "A vida é tão bonita / basta um beijo /  e o universo se recompõem / uma necessidade cósmica nos protege". Pronto, como se fosse assim olhando o horizonte caminhando na areia da praia e recitando os versos. O Senhor não abandona, a necessidade é cósmica, protege.

Aí, você ali, sem nenhum plano de imediato, resolve ligar o rádio, não gosta do vitrolão que se transformou a FM, muda o dion, e a noticia é a mesma da tv, daquele programa de fim de tarde, assassinatos, assaltos, suicidios, mentiras, injustiças, chuvas, desmoronamentos, mortes, mortes, mortes e mais mortes. Assim como a tv, o alto-falante derrama sangue.

A vida foi reduzida a um grão de areia que o vento leva. E a vida que é tão bonita...

É bem isso que se transformou tudo isso. Ninguém mais oferece flores. Ninguém mais oferece um sorriso no rosto. Onde foi parar o respeito, a tolerância e a os sentimentos bons? Alguém viu passar por aí, nem que seja de relance, caminhando despreocupado ou correndo, de alguém, da gente, com medo de gente. Gente que não sabe levar na brincadeira, gente que não sabe relevar, gente que resolve tudo com um, dois, três facadas, gente que quer fazer furinho em gente pra resolver, gente que dá tiro. Tiro de revólver, pistola, metralhadora. Tiro de arma que a gente não conhecia e aprendeu no programa do Datena. Tiro certeiro que cala, silencia.

Porque é muito mais fácil roubar, roubar a vida, roubar o povo - aquele que te colocou no poder -, roubar o sorriso, roubar a voz. Aí, eu peço, tente fazer diferente que eu também vou tentar. Estou tentando.

Aí você retoma os versos da Adélia, pois é, a vida que é tão bonita.... que um dia foi bonita... continuará sendo?



sexta-feira, janeiro 04, 2013


Claridade


Como um dedilhar de piano...



Minha vida sempre foi mais cinematográfica do que jornalística. Mais açucar. Bem mais Clarice Lispector do que Nelson Rodrigues. Uma canção assim simples, com a suavidade francesa,  com dois ou três acordes, meio Thiago Pethit, Tiê, Los Hermanos, Carla Bruni, Nara Leão. Um roteiro chapliano, a la Luzes da Cidade, com pitadas de nouvelle vague

Talvez seja por isso que o simples me envolve e me seduz. Deve ser por isso que desenhos de coração, as máquinas de escrever, o jardim de gerberas, a bicicleta, as cartas, os manuscritos, a boa e velha câmera lomo,  o bonito que é sonhar, me encantam. Porque eu sou um filme bonito que assisto, uma música que toca profundamente, um livro que leio, uma melodia que embala, uma letra bem simples que se mistura ao som da chuva, os traços de uma ilustração, um roteiro que você quer morar dentro.

Porque eu sou o tipo de gente é absorvida pela coisa que ama e que leva o que gosta para o cotidiano, que vive o que lê, que acredita em tuas ideologias e as defende.  Porque 'as únicas pessoas que me interessam são as loucas, aquelas que são loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas; as que desejam tudo ao mesmo tempo' (Jack Kerouac). Deve ser justamente por isso que sou tomada pelos escritos de Caio F, que tanto falou dos dragões, da astrologia, do doce, daquele doce, que fosse tão doce. Deve ser por isso que gosto do cinema vazio, do rádio, do livro para combater a insônia...

Poderia falar do prefeito, da propina, da divida, dos desvios, do SAS, da nomeação do secretariado, do bolsa família, da palhaçada que é a política nesse país, mas não, hoje decidi falar o que acho bonito.

quinta-feira, janeiro 03, 2013


Em tempo


Como dizia o Marcelo Paiva: feliz ano velho…



Um prato de lentilhas, sete ondinhas, uvas, romãs, roupas brancas pra trazer paz no ano que chega,  amarelo, porque atrai dinheiro, champanha de reveillon - que a gente sabe que é espumante. 

Para um feliz ano-novo é necessário muito mais que mandingas e crendices populares. 

Você que queria um ano novo renovado, e reclamou tanto do velho, taí 2013 chegou. Chegou juntamente com a pseudo-champanha que explodiu, com a queima de fogos no meio mar de Copa, na festa do Copacabana Palace, na orla da Praia Grande, no funk paulista da zona leste ou na telinha da tv que se liga em você. Não importa. Onde quer que você tenha inaugurado o ano novo que aos poucos vai virando arroz de festa e pronto. Já é ano velho de novo.

Para um ano novo que faça jus ao nome, deixe pra lá as tempestades solares, acredite na vibração do 6, no azul royal que é a cor do ano novo que chega, e se acredita no horóscopo, 2013 começa com a força combinada de Júpiter e Urano - e se você acredita mesmo, deve saber o que isso significa. É necessário que se acredite nos novos sonhos - pode ser os que não foram realizados no ano que passou - ,  que se faça novas promessas, que se escreva cartas, de amor, de amizade, de desejos,  uma nova lista a se realizar, que as primeiras linhas sejam de amor, paz e respeito. E que os pedidos não sejam tão superficiais como aumentar o número de amigos no facebook.

É preciso que a felicidade no ano novo não esteja extremamente ligada ao dinheiro que nos restar no bolso. Que ela vá além daquela que se mostra nas mídias sociais. E mais ainda, que tolerância, embora clichê, tenha sido um dos nossos pedidos para o ano que chegou.

Para se viver um ano novo é necessário, declarar o imposto de renda e -  com o que sobrou no bolso - pagar o ipva, iptu, além das contas mensais de água, luz, aluguel, telefone, cartão, além daquelas outras continhas que você tem, material escolar dos filhos, o colégio... Aí vem o Carnaval, feriado, a Páscoa, o Dia das Mães, e se não sobrar dinheiro? Ah, aí o feliz ano novo fica pra quando o próximo ano novo chegar. 

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