sexta-feira, julho 12, 2013


A gorda de burca

Imagine uma gorda de burca.



Ultimamente um assunto tem sido recorrente no meu "lar - com nem tanto açúcar - doce lar". Jantares e  almoços, há um bom tempo, são povoados pela mesa farta de uma família típica de descendentes italianos, numa dieta rica em carboidrato, e regados pelos doces e fartos comentários sobre os meus indesejados e tão queridos quilinhos a mais.

Entre uma mordida do mais delicioso pão caseiro e outra, confesso não ter o menor problema com isso, a não ser a minha dura relação com a balança que me leva a longas caminhadas diárias na esteira, remédio para colesterol alto e refrigerante riscado - juntamente com o açúcar -  do cardápio. Pura questão de saúde. Levo o assunto com a sutilidade de um jogador de futebol contando embaixadinhas, na mais pura esportiva.

Nunca tive problemas com peso. E isso nunca foi neura pra mim - e nem é - , mas quando me deparei que tal assunto tinha se mostrado pertinente não só nas reuniões lá em casa achei que algo tivesse mudado.  É a Betty Faria que ilustrava os portais com uma polêmica sem tamanho: seu biquíni e sua idade; é o Walcyr Carrasco que declara que gordos, no Rio, são mais discriminados do que negros; é a novela das 11 que traz a personagem que explode de tanto comer; é a vizinha, a amiga, a prima que não se entendem muito bem com o peso.

Algo me dizia que na verdade eu deveria me dar conta e levar a questão mais a sério. Tirando o fato de que o ar me engorda e respirar já me torna um pouco mais acima do peso e isso me incomodar só um pouquinho, sei que o termo "gorda" dói mais que um tapa na cara, para certas mulheres.

Mas parece que algo mudou. muito. em mim. Mudou minha forma de encarar apelidos carinhosos como fofinha e roliça, coisa de família, amor de irmã. Me dei conta que a sociedade encara com dificuldade  pessoas fora do padrão. Que padrão? Padrão inventado quando e por quem? É normal achar que todo mundo deve ser igual, da cor do cabelo aos gominhos do abdômen? Quem falou que o padrão é ser magrela, barriga chapada, cabelos compridos levemente escorridos e peitão? Quem falou que precisa tirar, e por, e alisar, e levantar, e clarear pra ser feliz?

Felizes são aquelas que aceitam o que são. Que não vivem culpando - nem se desculpando - pela sua forma. Se acha que está um pouquinho acima do peso, vai lá e tenta emagrecer. Tenta, mas não se priva da felicidade que é comer brigadeiro de panela e palha italiana assistindo ao filme que você mais gosta.

É muito mais bonito uma gordinha sorridente de biquíni em Copacabana do que uma gorda de burca pela Avenida Atlântica. E tudo é questão de assumir. Assumir o que você é e aceitar. Aceitar, se for opção. Se preferir por correr a trás, corra do jeito que você mais gosta, pode ser de short ou moletom. Não precisa deixar de lado a manicure, os novos batons, o blush, TPM... Perfeição só existe nas revistas. E quer saber, se seu caso for como o meu, que está muito mais pra Mafalda do que pra Barbie, mais Pagu do que Rachel de Queiroz, você deve estar preocupada com coisas de maior relevância do que o tamanho da sua barriga.


PS: Continuo acreditando que apelidos carinhosos familiares são pura implicância. 

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