quarta-feira, dezembro 01, 2010


E agora Ana?

'Uma vez, quando eu tinha quatro anos, achei um caco de vidro no monturo. Lavei, enxuguei, guardei bem guardado e fui comer com vontade, ficar obediente, emprestar minhas coisas, por causa do caco, porque tinha ele, porque eu podia quando quisesse pôr ele contra o sol e aproveitar seu reflexo'
Adélia Prado



Segura na ponta de uma estrela e vai. Voa. Desenha um sol, algumas nuvens, diversas estrelas brilhantes e uma flor bem bonita desabrochando ali no meio do asfalto.

Voa e acredita que com a aquarela a gente pode construir tudo. Tudo. Desde um planeta dourado até um castelo com linhas bordadas de cristal. Empresta a asa da borboleta e alcança a pontinha do arco-íris. Aproveite, descobre e revele o pote da felicidade que fica ali. Ali, bem do outro lado, logo atrás da montanha, um pote de pó mágico, repleto de moedas reluzentes.

Lambuze a boca de sorvete e os dedos de algodão doce. Pule amarelinha, se divirta no uni duni, pega ladrão e esconde-esconde. Corre ao vento, grite bem alto, chute a poça d’água e brinque embaixo do chuvisco da chuva. Acredite que para o sorriso largo é necessário apenas olhos grandes para as coisas pequenas.

Vê se entende Ana, de uma vez por todas, que em um dia qualquer, por um motivo qualquer, independente do que for, as lágrimas sempre chegarão e molharão seus olhos de jabuticaba madura, mas não se preocupe, voe que isso passa. Deixe pra trás tudo o que não tem cor e você verá o encanto das coisas simples.

Não ache isso estranho. Pode ser que essas lágrimas doces ou salgadas sejam apenas o céu tirando a maquiagem, a doçura das nuvens de algodão feitas de açúcar ou o mar que você tem dentro do peito e que escorrem vez ou outra, pelos seus olhos.

Não se preocupe e nem ouse desistir, você vai ver que um dia os brinquedos que hoje movidos à sentimentos fracos, sem pilhas e sem emoções um dia pararam e só o que tem força continuará sempre em frente.

Calma, as estrelas que não se acenderam, só estão esperando o momento oportuno para brilharem e o mundo, enfim, não descolorirá, acredite.
Agora Ana, feche os olhos, conte carneirinhos, ‘para o infinito e além’, sonhe com o giro do compasso e com aquela astronave muito mais colorida que tentamos pilotar. Sonhe com o céu, pois sua vontade vai muito além do chão.


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