terça-feira, setembro 07, 2010


Roda Vida. Roda Gigante. Roda Moinho. Roda Peão

Já decidi. Quando eu for gente grande quero continuar sendo criança, sem medo de ter medo de escuro. Achando muita graça no frio que dá na barriga todas as vezes que estou na roda gigante. Crescendo devagarzinho, de pouquinho em pouquinho diante dos infinitos gigantescos mínimos tropeços. Continuando não entendendo como funciona o fax, a matemática, o indesign, a grosseria e a maldade das pessoas. Pintando o sete com as cores do arco-íris na ponta dos dedos. Colorindo os dias nublados com o giz de cera e os bolinhos da vovó. Brincando de descobrir desenhos nas nuvens e ir correndo me esconder por entre o algodão doce.

O “não faz sentido” me é instigante e só aposto no que faz brilhar os olhos. O difícil me aborrece, a obrigação me irrita e o que preciso fazer à contragosto me faz chutar o balde. Choro sem motivo, da mesma forma, dou risadas. Quer me fazer sorrir? Então me envie um cartão colorido, um cubo mágico, balas e doces, e me faça surpresas.
Gosto de inventar mundos, criar personagens secretos e imaginários, fazer de conta que acontece. Abraço apertado, falo bem alto, canto destoando da melodia, invento a letra da canção. Tenho todas as perguntas na ponta da língua, não costumo vestir armadura, e faço figa para saber a resposta.

Gosto de marcar o nariz na vidraça, assim como desenhar o sol quando respiro bem perto. Lambuzo-me com o sorvete de pistache, como chocolate três vezes por dia, passo o dedo no glace e não ligo para que os outros pensem.
Aos poucos anestesio a dor com doses mínimas de simplicidade, embrulho a tristeza e abro caixinhas de surpresas. Irrito com o “já chegou?”, “Está chegando?”, “Você gosta de mim?”, “É de verdade?”, "Tem cor de rosa?" e o “Por que o mundo gira e a gente não percebe?”, além dos outros porquês. Não vivo sem as aulas de português, “se é com j ou com g”, “qual o porquê que eu uso” e o “com que letra começa?”.

Ralo o joelho, trombo com a porta, fico de castigo, grito bem forte. Rolo pela grama, não sei quase nada e posso sempre tudo. Adoro a hora do recreio e odeio a hora de ir dormir, portanto, leia-me histórias e me faça cafuné. Tomo água da chuva quando estou debaixo dela. Misturo choro com risos, doce com chiclete. Não tenho relógio e tenho muita pressa, por isso corro bem rápido. Desvendo mistérios. Acredito no sonho e não me venha com o tal do impossível.

Quero olhar e não ver perigo. Quero rir e fazer sorrir. Quero o dia mais feliz do mundo, todos os dias da minha vida.
Confio, enfrento, desconfio e contesto. Acredito que o mundo é feito apenas de sorriso, fantasias e brincadeiras, mesmo que ele me prove o contrário.


Subscribe

Licença Creative Commons