O “não faz sentido” me é instigante e só aposto no que faz brilhar os olhos. O difícil me aborrece, a obrigação me irrita e o que preciso fazer à contragosto me faz chutar o balde. Choro sem motivo, da mesma forma, dou risadas. Quer me fazer sorrir? Então me envie um cartão colorido, um cubo mágico, balas e doces, e me faça surpresas.
Gosto de inventar mundos, criar personagens secretos e imaginários, fazer de conta que acontece. Abraço apertado, falo bem alto, canto destoando da melodia, invento a letra da canção. Tenho todas as perguntas na ponta da língua, não costumo vestir armadura, e faço figa para saber a resposta.
Gosto de marcar o nariz na vidraça, assim como desenhar o sol quando respiro bem perto. Lambuzo-me com o sorvete de pistache, como chocolate três vezes por dia, passo o dedo no glace e não ligo para que os outros pensem.
Aos poucos anestesio a dor com doses mínimas de simplicidade, embrulho a tristeza e abro caixinhas de surpresas. Irrito com o “já chegou?”, “Está chegando?”, “Você gosta de mim?”, “É de verdade?”, "Tem cor de rosa?" e o “Por que o mundo gira e a gente não percebe?”, além dos outros porquês. Não vivo sem as aulas de português, “se é com j ou com g”, “qual o porquê que eu uso” e o “com que letra começa?”.
Ralo o joelho, trombo com a porta, fico de castigo, grito bem forte. Rolo pela grama, não sei quase nada e posso sempre tudo. Adoro a hora do recreio e odeio a hora de ir dormir, portanto, leia-me histórias e me faça cafuné. Tomo água da chuva quando estou debaixo dela. Misturo choro com risos, doce com chiclete. Não tenho relógio e tenho muita pressa, por isso corro bem rápido. Desvendo mistérios. Acredito no sonho e não me venha com o tal do impossível.
Quero olhar e não ver perigo. Quero rir e fazer sorrir. Quero o dia mais feliz do mundo, todos os dias da minha vida.
Confio, enfrento, desconfio e contesto. Acredito que o mundo é feito apenas de sorriso, fantasias e brincadeiras, mesmo que ele me prove o contrário.