quinta-feira, novembro 11, 2010


Onde pousam nossos sonhos?


"Vou rir bastante, manter um ar distante e esquecer quanto tempo faz."
Martha Medeiros

Esses dias têm anoitecido rápido. Antes das doze o dia já exala o aroma do crepúsculo. Os olhos quase nem conseguem repousar. Acreditei que já não era possível ver o céu da minha janela e que o sol havia desistido mesmo de acordar. Amputaram-me a asa esquerda, o que tem me impossibilitado, à vezes, de voar. Tentei durante alguns dias arrematar as dores e forrar a cama com lençóis de lembranças doces para que pudesse sonhar com os momentos bons e descobrir-me da colcha da tristeza. Desfazer as amarras, afrouxar o cadarço, desfazer o laço. Fechei os olhos. Era necessário recriar um mundo encantado a cada dia. Sapo que vira príncipe, coelho que sai da cartola, flor que vira pássaro, nós que se desfazem. É que o vento desfez meu castelo de areia, o carrossel me fez perder a direção e o cometa quase me levou com ele. Não tem sido fácil. Eu que já fui um pássaro, hoje sou somente pluma que cai.

Já não comento do arco-íris e das cores que ele tem. Já não mais aprisiono estrelas por entre os dedos só para vê-las brilhar. Já não mais roubo margaridas rosas no jardim da vizinha...
Mas nada de ficar chorando pelas folhas secas e amarelas que comumente ficam pelo caminho.Nada de revirar as gavetas em busca de rascunhos que ficaram para trás. Veja as folhas em branco como um futuro que precisa ser escrito.

Dei de ombros e pensei: que fique. Minha vida ainda está em gestação e eu sou destra desde que nasci.

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